Vou postar aqui uma publicação antiga que vi em um blog sobre música no ano de 2004, que estava revendo e achei pertinente trazer aqui para o Universo Dire Straits, uma vez que compartilho de boa parte desse ponto de vista abordado pelo autor.
"Alguns anos antes de "Brothers in Arms" transformar definitivamente os Dire Straits numa banda de estádio, o "blues-rock" protagonizado pelas Fender Stratocaster dos irmãos Knopfler foi um fenómeno de saudável revivalismo que ajudou a "geração de 70" a reconciliar-se com as novas tendências que emergiram da "new wave". O primeiro disco de originais estava recheado de temas que partiam da melancolia tranquila de JJ Cale para desenvolverem um som fortemente personalizado e que assinalava o regresso ao som primordial do rock'n'roll, assente nas guitarras, baixo e bateria, repudiando a plastificação que iria tomar conta de dezenas de bandas nos anos 80.
"Sultans of Swing" deu aos Dire Straits o grande empurrão para se colocarem sob os holofotes da fama. No programa "Rock em Stock", da Rádio Comercial, a canção era um dos pratos fortes, mas a insistência na divulgação do "single" acabava por votar à ignorância outras faixas igualmente apelativas que ajudavam a fazer do disco de estreia da banda um fenômeno a não desprezar. Conheci o resto do álbum através de uma cópia que me foi emprestada por uma "mão amiga" que, embora difícil de catalogar como melômana, andava, pelos finais da década de 70, com uma tendência invulgar para consumir música.
Foi desta forma que me apercebi que "Sultans of Swing" estava longe de arrumar os Dire Straits na vasta legião de bandas que a crítica inglesa costuma apelidar de "one hit wonder". "Down to the Waterline", que abria as hostilidades, "Water of Love", com a sua deliciosa "slide guitar", "Setting Me Up" e "Southbound Again", que recuperavam o rock de cores sulistas, e "Wild West End", uma balada irresistível à custa da melancolia das guitarras acústicas, faziam do disco uma das boas surpresas daquele ano de 1978, quando o "punk" já exalava os seus últimos suspiros para descanso dos tímpanos mais sensíveis.
Tudo isto era embrulhado numa capa que, sem favor, pode ainda hoje em dia integrar o que de melhor se fez, desde sempre, em matéria de design gráfico para este fim específico.
Os Dire Straits prosseguiriam no bom caminho nos dois álbums seguintes, "Communiqué" e "Making Movies". Mas a magia inicial foi-se perdendo à medida que a produção foi ficando mais polida, asfixiando a autenticidade original das guitarras que iam colher inspiração em Cale e nos Shadows. Recordo-me de, já nos anos 90, ter visto os Dire Straits no concerto que deram em Lisboa, no Estádio de Alvalade. Uma seca arquitectada pelos solos intermináveis de Mark Knopfler que provocavam uma incontornável sonolência e suspiros de saudade sobre os velhos tempos em que a banda dava os primeiros passos. Não deixa de ser curioso que a banda tenha intitulado "Alchemy" o seu duplo ao vivo. É um estrondoso equívoco porque a verdadeira alquimia dos Dire Straits só é detectável nos seus primeiros disco de estúdio.
Não há amor como o primeiro, costuma dizer-se. E uma colectânea, como "Money for Nothing", tem esse interesse de servir de aperitivo que abre a expectativa em relação aos pratos principais. Acho que o melhor de Mark Knopfler, enquanto guitarrista e compositor, está nos primeiros álbuns dos Dire Straits. O solo do tema "Brothers in Arms" não me desgosta. Mas nessa altura já o guitarrista tinha trocado a velha Stratocaster por uma Gibson. O que, para mim, faz toda a diferença.
Ainda a respeito dos Dire Straits, José deixou o seguinte comentário:
"O disco que me arrebatou os ouvidos foi Communiqué, de 1979. É, obviamente para mim, um disco melhor que o primeiro e talvez o melhor da banda."
Não consigo decidir qual dos dois primeiros álbuns dos Dire Straits é o melhor. Gosto do som cru do disco de estreia mas confesso que o "Communiqué" sempre exerceu, também, um grande fascínio junto dos meus ouvidos. Não tanto pelo tema "Lady Writter", de que nunca escutei a versão ao vivo que é referida no comentário, mas porque as guitarras estão melhor do que nunca, com um som límpido e cristalino, fornecendo uma sofisticação e elegância que não fazem parte dos atributos do primeiro disco da banda de Mark Knopfler.
O dedilhado na entrada do tema "News" é arrasador e lembro-me de ouvir esse tema vezes sem conta. "Portobelle Belle" e "Single Handed Sailor" são canções de primeira água. E o remate do álbum, através de "Follow Me Home", é daqueles que me fez perceber a utilidade de ter, no leitor de CD, a função "repeat".
Aproveitando a sugestão deixada pelo José, acho que vou levar para o carro o "Communiqué", um excelente antídoto para o "stress" do trânsito. Com a convicção de que, se não for o melhor dos Dire Straits, este álbum está, pelo menos, entre os seus dois melhores.
Ao lêr esses comentários, achei muito interessante, pois concordo em muitos pontos do que se foi comentado!
Realmente a magia inicial foi-se perdendo à medida que a produção foi ficando mais polida, asfixiando a autenticidade original das guitarras que iam colher inspiração em Cale e nos Shadows. Somente pelas Fender Stratocaster dos irmãos Knopfler, pode-se sentir tal magia!"
O autor desse comentário foi brilhante ao escrever:
(Não deixa de ser curioso que a banda tenha intitulado "Alchemy" o seu duplo ao vivo. É um estrondoso equívoco porque a verdadeira alquimia dos Dire Straits só é detectável nos seus primeiros disco de estúdio.) Isso é realmente claro, só não ver quem não quer, sem desmerecer toda a grande obra da banda! ^^
Infelizmente eu não achei a fonte, creio que não exista mais esse blog, porém, eu tinha salvo em meus documentos de word esse texto.
O que vocês acham deste ponto e vista? Até que ponto acham coerente?
Brunno Nunes
Também concordo com o autor do texto. Sempre achei Communiqué o álbum mais "harmônico" do DS, onde as guitarras dos irmãos Knopfler atingiram o que de melhor se escuta como "entrosadas". Além disso, o baixo de John ficou mais marcante, como em Follow Me Home, Single Handed Sailor (minha preferida) e outras.
ResponderExcluirDiscordo ... O álbum de estréia exala uma banda q parecia ter 30 anos de estrada.. Tudo ali é harmônico.. As letras são lindissimas e a sutileza impera... Aonde vc vai encontrar um début tão belo na história do rock? Só consigo ver isso no definitely maybe do oasis, 20 anos mais tarde...
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