Já que é a turnê que vem sendo menos votada, atualmente com 4 votos, apenas 8% , eu vou tentar dar uma "moralzinha" a essa turnê. ^^
Nesse tópico, tentarei destacar com profundidade alguns aspectos que vão ajudar a entender melhor a turnê do Love Over Gold.
Para isso, devemos mergulhar profundamente na turnê do Making Movies ou On Location tour- 1980-1981.
1- Para compreender melhor o Dire Straits durante o álbum Love over Gold e respectiva turnê é preciso conhecer bem a turnê do Making Movies (1980-1981). Em Making Movies houve uma clara mudança estruturais, das quais influenciou imediatamente a sonoridade da banda. A ruptura com a sonoridade Fender Stratocaster dos irmãos Knopfler, a adesão das Schecters, (segundo Knopfler, uma guitarra mais potente e sofisticada), a entrada de dois novos membros, sendo um desses, um novo instrumentista, um tecladista, pianista, um músico que vai mudar pra sempre a sonoridade do Dire Straits, é claro que vocês sabem de quem estou falando, Alan Clark. Suas contribuições são imensuráveis, membro ativo no processo de construção e reconstrução de uma gama de canções antes e contemporâneo ao seu período na banda.
1.2- Fazendo um pequeno recorte temporal, observamos a turnê do Making Movies 1980-1981 e algumas de suas características mais marcantes. É fato que tal turnê se configura como o período experimental, basta analisar na integra qualquer bootleg do início da turnê em 1980 (Boston 1980) e um outro na íntegra em 1981 (The best rock 'n' roll orchestra), é de certa forma impactante ouvir as canções dos dois primeiros álbuns adaptadas ao novo formato da banda, tendo o protagonismo categórico do Alan Clark. Eu costumo dizer que ele é um autentico criador de atmosferas sonoras, habilidoso como todo gênio, sensível e criativo, perfeito para o Dire Straits. Knopfler tinha um grande aliado no processo de suas canções.
(Alan Clark recém chegado ao Dire Straits- Setembro de 1980. Uma dupla implacável com alto teor de criatividade, em prol da boa música)
Sobre sua entrada para o Dire Straits.
(Lembremo-nos que na altura, ele estava falando especificamente dos dois primeiros álbuns, pois eram os únicos lançados até então.)
2- Vejamos agora o repertório de um show da On Location tour- 1980-1981
Once upon a time in the west
Expresso love
Down to the waterline
Lions
Skateaway
Romeo and Juliet
News
Sultans of swing
Portobello belle
Angel of mercy
Tunnel of love
Telegraph road
Where do you think you're going?
Solid rock
Outras canções interpretadas nessa turnê: (Em 1980)
Les Boys
In the Gallery
Wild West End
Single handed sailor
Observem as canções em negrito que destaquei, é através delas que irie abordar essa turnê e no final vocês vão entender melhor essa turnê, bem como a conseguinte, LOG tour 1982-1983. Percebam que elas são canções dos dois primeiros álbuns. Essas 11 canções tiveram suas estruturas alteradas, novos arranjos foram experimentado em ambas, é uma turnê extremamente curiosa por haver mudanças substanciais, pois além da apreciação das canções novas, oriundas do álbum em que a turnê se baseava, o público iria contemplar TODAS as outras canções em um novo formato. As mudanças mais expressivas estão a meu ver em disparada na canção Angel of mercy, completamente reformulada, mudam-se as notas, a interpretação, os arranjos, mais parece uma outra canção, pouco se assemelha a versão de estúdio. Mark usa sua Burns Baldwin de 12 cordas.
(Sem dúvidas a melhor versão dessa canção nessa turnê)
Destacaria ainda a canções como Single handed sailor, In the Gallery, ambas ganharam uma atmosfera que flerta com o Funk, (o groove sempre foi uma constante na formação original) razão pela qual, essas duas canções em essência funcionam melhor,em minha opinião, com a formação original, a começar pelo fator timbristico, elas simplesmente acontecem com uma Fender Stratocaster.
Para além, temos uma Portobello belle em um ritmo mais acelerado, mais Rock.
Ao que tudo indica, Mark usa sua Telecaster Custom (sunbust) no começo da turnê, ainda em 1980,
Podemos ver o capotraste na guitarra de Mark Knoplfer em ambas as fotos, sempre presente na 5º casa. Se não for Portobello Belle, meu palpite é que seja Wild West End, pois ela foi tocada apenas nos shows de 1980, afinal, ambas são da mesma "família", não era a toa que em 79 havia uma ponte entre elas presentes nos shows da segunda turnê Americana em diante.
Sabemos que nos shows de 1981, Mark usa uma Rickenbacker em Portobello Belle, abaixo algumas fotos raras que disponibilizo para análise e apreciação de algum momentos dessa canção em 1981.
Momento do solo final executado por Hal Lindes.
(Aqui está uma outra foto rara do backstage em Vigorelli, Milan, Itália, 29 de Junho- 1981, onde podemos observar as guitarras. Destacando a sua Rickenbacker.)
Porém, das inovações que marcaram esse período experimental, a meu ver, o maior mérito está no que a banda fez por essas 4 canções Down to the waterline, Lions, News e Where do you think you're going. Se alguém me perguntar, as versões de Down to the Waterline que eu mais gosto, eu responderia que as versões da formação original, aquele efeito das buzinas de navio que Mark faz no começo da introdução, os efeitos de phaser por David Knopfler e o timbre das Fenders são coisa impagáveis, (a versão do bootleg Amsterdam 79- (04-11-79) possui a melhor introdução de todos os tempos dessa canção.) contudo, eu não posso esquecer que Alan Clark vem ambientar essa canção de uma forma brilhante, ora com o sabor "aveludado" do órgão hammond, ora com lindas passagens de piano.
A versão do Live in Dortmund- 1980 é valiosa para análise. É cabível citar que essa levada, com um ritmo mais rápido, (diferente por exemplo da versão do Rockpalast 79), esse formato teve sua origem ainda no final da turnê do Communiqué, basta conferir a versão do BBC Arena (formação original), nessas versões, podemos nos deparamos com diferentes nuances, a começar do clima mais definido de progressivo no ar, justamente na introdução, por outro lado, o timbre da sua Schecter em 1980 ainda não estava bem definido, apenas em 1981 ele muda a captação dela e ai fica um pouco mais aprimorado, contudo, ainda nada comparável ao timbre que vai ocorrer na LOG tour.
Mas, para mim a cereja desse bolo é Lions. É aqui que algumas coisas surgem de forma mais substancial em termos de atmosferas sonora. Nas versões de 1980 contemplamos uma ponte perfeita entre Down to the Waterline e Lions, além disso, uma enfase no órgão hammond vai deixar a canção mais sofisticada. Outros dois pontos que chamo atenção nessa canção é (1) a adição de novos acordes para o final, outrora era feito em A (versões da formação original), nesse período a banda adicionou o acorde de F e G, ficando a seguinte sequencia F-G-A. Isso pode parecer bobagem, mas resulta em um novo clima para a canção, para maior absorção dessas nuances eu estou deixando o show Dortmund 80 com uma boa qualidade. Na descrição do vídeo, cliquem em 03. Lions [00:15:01] e vão direto ao ponto. Reparem a construção harmonica que vai iniciar no ponto 18:50 min., justamente quando inicia o solo, percebam como essa atmosfera que vai se criando, principalmente quando chega as mudanças de acordes ( F-G-A), vai remeter ao solo final da canção It Never Rains ao vivo em 1982!
Em 1981:
Ainda sobre Lions (2), em 1981, ainda com muito gás, eles aprimoram a introdução, a canção fica mais sofisticada, ainda mais ambientada, percebam os sons de sinos logo na abertura da canção, tudo feito por Alan Clark. É lindo de ouvir, sabendo que eles estão manifestando na parte instrumental elementos que fazem parte da letra: (Church bell clinging on trying to get a crowd for evensong), os sinos da Igreja de St Martin in the Fields, em Londres. Por isso que sempre que eu ouvia Lions ao vivo em 81 associava com aqueles sons de órgãos sempre presentes em mosteiros beneditinos, bem como igrejas anglicanas. Percebam que esse órgão vai se fazer presente no fundo musical da canção inteira, ele começa a ganhar mais enfases no fim do primeiro solo e início da última estrofe, depois Alan usa o piano, enfim... é mais uma canção de rara beleza que teve seu último suspiro nessa turnê.
(Reparem o final de Lions em estúdio, ou ao vivo entre 78/79 e depois ouçam atentamente a introdução da canção Communiqué) ^^
News e Where do you think you're going, ambas vão ganhar novas texturas e consequentemente, novas atmosferas. News será apresentada com um mudança de acorde, ao invés do segundo acorde de Bm é tocado o acorde de G, suponho que tenha ligação com a função de notas relativas, deixo essa parte para os mais capacitados do que eu para abordar (Arthur, meu filho, cade você). Pequenos detalhes que somados a outros vão criando um novo clima e a canção vai amadurecendo, a canção é interpretada com mais calor, não obstante, outras grandes novidades acontecem em News, especificamente em seu final. Nesse ponto eu gostaria de chamar muito a atenção de todos, pois reside aqui um grande elo de ligação com o próximo álbum (Love Over Gold) bem como sua turnê, o final de News vai originar um dos maiores clássicos do Dire Straits. Tendo como referência a versão de News do show em Dortmund 1980, vemos perfeitamente o por quê dessa ser uma fase realmente experimental, observando o final de News, a gente consegue deduzir a razão dessa canção não ter continuado na próxima turnê. Knopfler simplesmente aproveitou a construção feita em seu final no decorrer da turnê e quando foi elaborar o próximo álbum, Love Over Gold, usou a melodia feita para o final de News para ser o final de uma nova canção, Private Investigations. Evidentemente que a presença de Alan Clark, mais uma vez, foi fundamental no processo de criação.
Where do you think you're going, canção sempre muito aguardada nos shows dessa fase, a banda consegue realizar um feito realente impactante, novamente, Alan Clark é quem vai dar o tom diferencial, ele vai criar novamente uma atmosfera incrível junto com Mark. Observem que a canção vai ganhar dois momentos com solos extras, um feito por Alan e seu sintetizador e em seguida Knopfler executa um outro dramático solo antes da última estrofe. O solo final é de fato tocante e apoteótico, podemos apreciar nessas duas impecáveis versões:
(Admito que Lions e Where do you think you're going são as minhas prediletas dessa turnê.)
Como vocês perceberam, eu fiz questão de usar apenas as canções dos dois primeiros álbuns para trazer novas perspectivas acerca desta turnê, fundamental para poder compreender melhor o que é o show Alchemy, bem como toda a LOG tour 82-83.
De toda essa safra de canções que abordei, as únicas que sobrevivem e seguiram para a turnê do Love Over Gold foram: Once upon a time in the west, Sultans of swing e Portobello Belle.
A experiência que a banda adquiriu na turnê entre 1980-1981 serviu de alicerce tanto para a produção do novo álbum, como para a estruturação da LOG tour.. Once upon a time in the west, Sultans of swing e Portobello Belle foram novamente reformuladas na LOG tour 1982-1983 e na minha opinião, chegaram em seus respectivos apogeus, ápices, status quo. Para mim, a LOG tour 1982-1983 representa o equilíbrio perfeito, tanto da estrutura da banda, como a estrutura de todas as canções tocadas nessa turnê, com a única exceção, Private Investigations, eu amo as versões de 82-83, mas tenho que reconhecer que esta foi amadurecendo até 1992, dez anos depois de ser escrita, é na OES que ela atinge seu clímax maior, também é uma questão de opinião.
Entretanto, o Dire Straits durante a Making Movies tour mantém uma notável e natural conexão com os dois primeiros álbuns, o que torna uma turnê muito especial do ponto de vista de se observar como soam as canções mais antigas com as novidades que a banda estava disposta a trazer em sua sonoridade, com a inclusão de um tecladista, este que só veio somar ao que já era bom e elevar a sonoridade da banda a um patamar sem precedentes durante os anos 80' e início dos anos 90'. Outro ponto fabuloso é que esta é a última turnê com o grão mestre das baquetas, Pick Whiters, ele é a grande força que vai manter o elo entre os novos e os velhos Dire Straits, todas canções soam com uma pegada inimitável, sempre rico em sutilezas.
É interessante notar que o mesmo processo que ocorreu com as canções dos dois primeiros discos durante a turnê de 80-81, acontecerá com as canções do Making Movies durante a turnê do Love Over Gold 82/83, Expresso Love, Romeo and Juliet, Tunnel of Love e Solid Rock ainda mais lapidadas e melhor estruturadas. Eu diria que Romeo and Juliet e Solid Rock em seu melhor formato, Expresso Love e Tunnel of Love são magnificas na LOG tour, mas, reconheço que foi na BIA tour 85/86 que ambas atingiram seu apogeu!
Enfim, essas foram as nuances da MM tour 80-81 que gostaria de trazer para vocês, eu espero que tenham gostado, não deixem de comentar aqui no blog suas considerações, criticas, é muito importante é para mim, eu não seria completamente feliz guardando minha experiência de fã apenas para mim, gosto de compartilhar, por isso criei esse blog há 8 anos e venho tentando trazer luz há vários aspectos que compõe o Universo Dire Straits!
E guardem, eu ainda voltarei com mais novidades sobre o Dire Straits e a turnê do Love Over Gold.
(Dire Straits no sertão pernambucano, Maio de 1981. Brincadeira ^^ )
Fraternalmente
Brunno Nunes.
7 comentários:
Rapaz,
Passei um tempo longe daqui e levei um susto!
Muita postagem boa! Várias aulas de história.
Coisa interessante nessa turnê é que a saída do DK deixa o Mark mais à vontade.
Sobre a inversão do acorde Bm pra G em News, a resposta é a seguinte:
Não faço idéia porque trocaram!
abraço!
Wow! great write-up -- I really enjoyed reading it. I have always thought this tour was under-represented with versions on youtube etc. but you have shown me they are out there I just gotta look. I also gotta say I love Pick Withers and I wish we had had the chance to hear him longer in the Straits!
Best Regards, Bryan from Louisiana USA
Genial, eu acredito que o pick writers foi um batera menos duro que o Terry Williams, creio que se tivesse ficado o Omar Hakim nao teria gravado as bateras no Brothers in Arms. Alan Clark sem comparacoes!!! O Mark tava improvisando muito, nivel la em cima!!!
Conterrâneo!! Mais uma vez vens com uma aula sobre o Dire Straits. Também acho uma das fases mais interessantes do Dire Straits. A entrada de Allan Clark só adicionou o que já era bom como você disse. Valeu Brunno!! Estou no aguardo das nuances da LOG Tour!!
Conterrâneo!! Mais uma vez vens com uma aula sobre o Dire Straits. Também acho uma das fases mais interessantes do Dire Straits. A entrada de Allan Clark só adicionou o que já era bom como você disse. Valeu Brunno!! Estou no aguardo das nuances da LOG Tour!!
Grande Arthur, fico feliz que tenha tido uma boa surpresa ao retornar a casa! ^^
Acho que fui fortificado com o vírus da História, realmente tem me ajudado bastante a desenvolver meus estudos e perspectivas sobre esse objeto de pesquisa, que é também o Dire Straits.
Um fraterno abraço e espero voltar em Recife pra a gente tirar uns sons, quero aprender mais algumas lições da técnica do mestre, neste quesito, você é um discípulo bem mais dedicado do que eu! ^^
Caro Hebbert, muito obrigado, é sempre bom poder ver que ainda há pessoas interessadas em fazer destes lugar uma comunidade Knopfleriana! Se David Knopfler tivesse ficado até essa turnê, seria a melhor formação, com toda certeza, a meu ver!
Em breve estarei voltando com mais!
Um abraço!!!!
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